Inquérito da FAP: mais de metade dos jovens pondera emigrar

Dados revelam, ainda, que 53% dos estudantes da Academia do Porto tiveram explicações no Ensino Secundário e que o alojamento e a alimentação são as principais despesas dos estudantes, à frente da propina. 

Na antecâmara do início da campanha eleitoral para as Eleições Legislativas convocadas para 10 de março, a Federação Académica do Porto (FAP) realizou um inquérito na Academia do Porto, com o objetivo de conhecer a perceção dos estudantes sobre a igualdade de oportunidades, a eficácia do modelo de ensino e as perspetivas de emancipação, após a conclusão do Ensino Superior.

O inquérito – que registou as médias dos estudantes, aquando da colocação no Ensino Superior – verificou que mais de metade dos estudantes, 52%, foram colocados no curso que frequentam com médias iguais ou superiores a 17 valores e 33% com médias entre os 15 e os 17 valores. Apenas cerca de 15% dos inquiridos foram colocados com médias inferiores a 15.

Mais de metade dos estudantes teve acesso a explicações no Ensino Secundário.

Quando questionados sobre a frequência de explicações a alguma disciplina, mais de metade dos estudantes, 53%, responderam ter recorrido a explicações durante o Ensino Secundário. Neste indicador, a percentagem mais elevada encontra-se entre os estudantes com médias entre os 17 e os 18 valores, com 63% dos 248 estudantes com estas classificações a declarar ter tido acesso a explicações durante o Ensino Secundário.    

“O facto de mais de metade dos estudantes ter tido explicações no Ensino Secundário é preocupante no que concerne à qualidade da Escola Pública e faz temer que muitos dos mais desfavorecidos acabaram por ficar pelo caminho”, afirma Francisco Porto Fernandes, presidente da FAP.

Habitação e alimentação são os principais custos dos estudantes.

Relativamente à frequência do Ensino Superior, o inquérito pretendeu compreender como estão estruturados os custos e como a despesa de cada estudante se distribui mensalmente por um conjunto específico de itens. A habitação assume-se como a despesa mensal que mais pesa nas contas dos 355 estudantes deslocados que responderam a este inquérito, com 35% dos inquiridos a afirmar gastar 200€ a 300€ por mês e cerca de 40% a declarar despesas acima dos 300€ mensais. A segunda despesa com mais significado é a alimentação. Entre os estudantes deslocados, 72% afirma gastar mais de 100€ com a sua alimentação. No sentido inverso, entre os 647 estudantes que não necessita de residir fora do seu agregado familiar para frequentar o ensino superior, 67% declara gastar menos de 100€ mensais com despesas de alimentação.

Os dados recolhidos visaram, ainda, as despesas com a propina, mobilidade e transportes, materiais pedagógicos, saúde, desporto e outras despesas correntes. Neste âmbito, ao analisar as respostas dos 775 estudantes inscritos em cursos de licenciatura, destaca-se que, atualmente, a expressão da propina na estrutura de custos de frequência é semelhante à de qualquer outra despesa, representando um esforço mensal inferior a 100€. Aliás, 14% dos estudantes de licenciatura afirma despender mais com mobilidade e transportes, do que com a prestação da propina.

46% dos inquiridos ponderaram interromper ou abandonar o Ensino Superior.

No ensino superior público, nos cursos de formação inicial, o valor máximo da propina encontra-se fixado em 697€ desde 2020. Se analisado apenas o grupo de estudantes deslocados, sobressai que mais de 80% apresenta custos com habitação superiores ao esforço mensal que é requerido para o pagamento da propina. A FAP questionou, também, os estudantes sobre se alguma vez ponderaram interromper ou abandonar o Ensino Superior, com 46% dos inquiridos a responder afirmativamente. 

Quanto à problemática do alojamento, o presidente da FAP afirma: “Desde 2018 só foram concluídas 474 camas, ou seja 3%. O próximo Governo tem de ter sentido de urgência na concretização do Plano Nacional para o Alojamento no Ensino Superior pois só assim poderemos conquistar um Ensino Superior equitativo.”

Apenas 22% dos estudantes tem expectativa de arrendar ou adquirir habitação antes dos 25 anos.

 A última secção do inquérito, sobre a emancipação jovem, revelou que apenas 22% dos estudantes tem expectativa de arrendar ou adquirir habitação antes dos 25 anos, nos anos imediatos à conclusão dos seus cursos superiores. A maioria dos estudantes, 53%, espera conseguir alcançar condições para arrendar ou adquirir habitação, entre os 26 e os 29 anos, e 24% acredita que a independência financeira só será possível depois dos 30 anos.

As expectativas salariais ajudam, também, a explicar esta realidade, uma vez que um terço dos estudantes acredita que o seu primeiro salário será inferior a 1.000€, apesar das qualificações superiores. Cerca de metade dos estudantes, 47%, respondeu esperar um salário entre os 1.000 e os 1.250€ e apenas 2 em cada 10 estudantes acredita vir a receber um salário acima deste patamar, quando entrar no mercado de trabalho.

“O poder de compra dos graduados caiu 30% em 10 anos, saímos de casa dos nossos pais, em média, aos 30 anos e 30% dos jovens nascidos em Portugal vivem no estrangeiro. O número 30 é a prova de que vivemos pior do que a geração anterior. É, por isso, imperativo um desígnio nacional pela juventude no próximo Governo. A Secretaria de Estado da Juventude deve estar sob tutela do primeiro-ministro”, remata o presidente da FAP.

Metade dos inquiridos pondera emigrar após a conclusão do Ensino Superior.

Os dados recolhidos neste inquérito revelam, também, que quanto maior a expectativa salarial, maior é a propensão para a emigração. Ainda assim, independentemente da expectativa salarial, metade dos inquiridos pondera emigrar após a conclusão do Ensino Superior, sendo que outros 33% prefere ainda não responder. Neste ponto, apenas 17% dos estudantes declarou não pretender emigrar. 

Ao analisar-se as áreas de formação, o Direito é a área onde se encontra a menor percentagem de estudantes a ponderar emigrar, com apenas 38% de respostas afirmativas. A percentagem mais elevada foi registada nos cursos da área das Ciências e Tecnologias, com 62% dos estudantes a declarar que pondera emigrar. Nas Ciências Económicas, Letras e Comunicação, na Saúde ou nas Artes, as percentagens encontradas são semelhantes, com cerca de metade dos estudantes a responder afirmativamente quanto à possibilidade de trabalharem fora do país.

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Ficha técnica: O inquérito aplicado teve como objetivo identificar as principais preocupações sentidas pelos estudantes no que respeita às políticas de Juventude e de Ensino Superior. A amostra foi constituída por um total de 1.002 estudantes, inscritos em instituições de Ensino Superior da Academia do Porto, distribuídos da seguinte forma: 45% do Ensino Universitário Público, 32% do Ensino Politécnico Público e 23% do Ensino Particular e Cooperativo. Entre o total de inquiridos, 58% do sexo feminino e 41% do sexo masculino, 27% são beneficiários de bolsa de estudo e 35% são estudantes deslocados, que reside fora do seu agregado familiar de origem durante o período letivo. A maior parte encontra-se a frequentar cursos de licenciatura, num total de 77%, sendo que 21% dos estudantes frequentam mestrado.